Se vivo fosse, o
escritor mineiro, João Guimarães Rosa, com certeza, trocaria o seu rifão de que
"viver é muito perigoso" para "viver é horroroso".
O brasileiro vive, atualmente, a verdadeira guerra do horror. Aquele que
sai à rua não tem certeza se voltará vivo ou inteiro para casa. Encontramo-nos
num mundo no qual o perigo e a incógnita fazem parte de forma ativa da vida.
Podemos notar que o ser humano vai, a cada dia, se perdendo em meio ao horror
de vida que se manifesta por todos os cantos. --- E agora, com essa pandemia, a
coisa nos parece generalizada. O povo já não tem medo apenas dos bandidos, carrega
consigo, também, o medo de um vírus invisível; do futuro e da incerteza em que
vive.
É verdade que o crime existe desde os tempos de Adão. As guerras são
combates que acompanham a evolução do homem, isso porque, afinal são
necessárias para a transformação do universo. O mundo pacato, certamente, não
progrediria. As contendas e os embates são vitais para o progresso. Todavia, a
maldade que habita o homem, ao invés de com o tempo se atenuar, na busca de uma
diminuição, vem assustadoramente se acomodando dentro do ser humano fazendo com
que os filhos de Deus se tornem em demasia maus, invejosos, prepotentes,
egoístas, estando envolvidos, intensamente, em um tipo de sentimento
destruidor.
Hoje em dia, além da maldade inerente ao ser humano, existem ainda as
drogas malignas que infestam, devastam e destroem os lares. ---- As armas de
fogo em poder de pessoas, emocionalmente despreparadas. Afinal, se vivemos em
um mundo cuja caça é proibida, por que, então, há então a fabricação e o
comércio legal de armas de fogo? Esses instrumentos, ao invés de serem
proibidos e ou destruídos não deveriam ser fabricados. Um revólver não é uma
arma de guerra e se a polícia anda armada é porque o bandido está armado.
Conclui-se que está sendo ignorada a lei universal de causa e efeito.
E a corrupção? Principalmente, a corrupção dos políticos? Esses representantes
do povo e que deveriam ser os guardiões e os defensores da moral, dos bons
costumes e da ordem pública, principalmente com o erário público, chegam a
transportar dinheiro roubado dentro da cueca. Não respeitam a base da dignidade
humana. Enfim, tudo aquilo que seria de uso para o bem, vem sendo, amplamente, usado
para o mal. Deixa-se de observar, de buscar o bem público, o bem-estar social
para satisfazer, elevar e ostentar o seu próprio ego e a ganância pessoal.
Sendo o homem um animal racional, ocupante do primeiro lugar na escala
zoológica, é lamentável constatarmos que existem animais se comportando, por
instinto, de forma mais prática. O raciocínio vem sendo usado com insistência
para o crime e para a destruição. Tudo na vida apresenta melhora, menos o
homem. A vida está banalizada. Mata-se
por idiotices. O sofrimento da sociedade se reflete naquilo que o homem cria
com uma mão e destrói com a outra.
Patente está de que o ser humano aprende a viver à base de exemplos.
Qual o bem que poderá fazer a uma criança que assiste a um filme de faroeste?
Um programa de crimes que mostra escancaradamente as vítimas? Uma luta livre ou
de Box, coisas essas que têm por sinônimo a violência? --- Essas formas de
entretenimento dão clara interpretação de que o homem tem o instinto violento.
O comportamento de um adulto é um exemplo para uma criança. Uma criança
que presencia um crime pode guardar esse quadro de horror por toda a sua vida e
essa lembrança associada à fantasia pode lhe fazer muito mal.
Eu tenho guardado comigo cenas vivas do meu tempo de criança. Certa vez,
ao passar à porta do bar do Edmundo Simões, então, situado à Praça Antônio
Furtado, quando dois homens brigavam e um arrancou de uma faca e sangrou o
outro num cena deplorável. Um se chamava Belarmino e o outro Mané Mulato... Outra
vez quando na Igrejinha do Rosário, um homem bêbado deu um tiro no meio do povo
e acertou uma filha do senhor Sidney Galdino...
Outra vez eu pude presenciar uma
cena terrível quando aconteceu no Bairro da Lage, em Candeias, um crime bárbaro.
O marido, que se chamava Afonso, matou a facadas a sua esposa, Afonsa, e logo
se suicidou, ficando os dois corpos banhados, em um poço de sangue, no interior
da residência. Essas cenas até hoje, encontra-se guardadas dentro de mim cuja
lembrança fúnebre eu jamais consegui expurga-la.
A fragilidade das autoridades da época deixou que esse quadro de horror
ficasse à disposição dos curiosos, dentre eles: adultos, crianças e idosos.
Todos podiam ver de perto os corpos sem vida expondo um quadro, verdadeiramente,
assustador. Supunha-se tratar de um crime passional. O fato de marido e mulher
terem o mesmo nome criou-se, por muitos anos, entre os candeenses, o mito de
que o casamento de ambos de nomes iguais não teria sorte.
Até hoje, após mais de sessenta anos, vem à tona de minha memória todos
esses quadros de horror que entrou pelos meus olhos, passou pelo meu cérebro e
ficou estacionado dentro do meu coração.
O mundo não está ameaçado pelas pessoas más e sim por aquelas que
permitem a maldade. (Albert Einstein)
Armando Melo de Castro
Candeias Casos e acasos.
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