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terça-feira, 11 de junho de 2013

AFONSA E AFONSO, E SUAS VIDAS.




Se vivo fosse, o escritor mineiro, João Guimarães Rosa, com certeza, trocaria o seu rifão de que "viver é muito perigoso" para "viver é horroroso".

 

O brasileiro vive, atualmente, a verdadeira guerra do horror. Aquele que sai à rua não tem certeza se voltará vivo ou inteiro para casa. Encontramo-nos num mundo no qual o perigo e a incógnita fazem parte de forma ativa da vida. Podemos notar que o ser humano vai, a cada dia, se perdendo em meio ao horror de vida que se manifesta por todos os cantos. --- E agora, com essa pandemia, a coisa nos parece generalizada. O povo já não tem medo apenas dos bandidos, carrega consigo, também, o medo de um vírus invisível; do futuro e da incerteza em que vive.

 

É verdade que o crime existe desde os tempos de Adão. As guerras são combates que acompanham a evolução do homem, isso porque, afinal são necessárias para a transformação do universo. O mundo pacato, certamente, não progrediria. As contendas e os embates são vitais para o progresso. Todavia, a maldade que habita o homem, ao invés de com o tempo se atenuar, na busca de uma diminuição, vem assustadoramente se acomodando dentro do ser humano fazendo com que os filhos de Deus se tornem em demasia maus, invejosos, prepotentes, egoístas, estando envolvidos, intensamente, em um tipo de sentimento destruidor.

 

Hoje em dia, além da maldade inerente ao ser humano, existem ainda as drogas malignas que infestam, devastam e destroem os lares. ---- As armas de fogo em poder de pessoas, emocionalmente despreparadas. Afinal, se vivemos em um mundo cuja caça é proibida, por que, então, há então a fabricação e o comércio legal de armas de fogo? Esses instrumentos, ao invés de serem proibidos e ou destruídos não deveriam ser fabricados. Um revólver não é uma arma de guerra e se a polícia anda armada é porque o bandido está armado. Conclui-se que está sendo ignorada a lei universal de causa e efeito.

 

E a corrupção? Principalmente, a corrupção dos políticos? Esses representantes do povo e que deveriam ser os guardiões e os defensores da moral, dos bons costumes e da ordem pública, principalmente com o erário público, chegam a transportar dinheiro roubado dentro da cueca. Não respeitam a base da dignidade humana. Enfim, tudo aquilo que seria de uso para o bem, vem sendo, amplamente, usado para o mal. Deixa-se de observar, de buscar o bem público, o bem-estar social para satisfazer, elevar e ostentar o seu próprio ego e a ganância pessoal.

  

Sendo o homem um animal racional, ocupante do primeiro lugar na escala zoológica, é lamentável constatarmos que existem animais se comportando, por instinto, de forma mais prática. O raciocínio vem sendo usado com insistência para o crime e para a destruição. Tudo na vida apresenta melhora, menos o homem.  A vida está banalizada. Mata-se por idiotices. O sofrimento da sociedade se reflete naquilo que o homem cria com uma mão e destrói com a outra.

 

Patente está de que o ser humano aprende a viver à base de exemplos. Qual o bem que poderá fazer a uma criança que assiste a um filme de faroeste? Um programa de crimes que mostra escancaradamente as vítimas? Uma luta livre ou de Box, coisas essas que têm por sinônimo a violência? --- Essas formas de entretenimento dão clara interpretação de que o homem tem o instinto violento.

 

O comportamento de um adulto é um exemplo para uma criança. Uma criança que presencia um crime pode guardar esse quadro de horror por toda a sua vida e essa lembrança associada à fantasia pode lhe fazer muito mal.

 

Eu tenho guardado comigo cenas vivas do meu tempo de criança. Certa vez, ao passar à porta do bar do Edmundo Simões, então, situado à Praça Antônio Furtado, quando dois homens brigavam e um arrancou de uma faca e sangrou o outro num cena deplorável. Um se chamava Belarmino e o outro Mané Mulato... Outra vez quando na Igrejinha do Rosário, um homem bêbado deu um tiro no meio do povo e acertou uma filha do senhor Sidney Galdino...

 

 Outra vez eu pude presenciar uma cena terrível quando aconteceu no Bairro da Lage, em Candeias, um crime bárbaro. O marido, que se chamava Afonso, matou a facadas a sua esposa, Afonsa, e logo se suicidou, ficando os dois corpos banhados, em um poço de sangue, no interior da residência. Essas cenas até hoje, encontra-se guardadas dentro de mim cuja lembrança fúnebre eu jamais consegui expurga-la.

 

A fragilidade das autoridades da época deixou que esse quadro de horror ficasse à disposição dos curiosos, dentre eles: adultos, crianças e idosos. Todos podiam ver de perto os corpos sem vida expondo um quadro, verdadeiramente, assustador. Supunha-se tratar de um crime passional. O fato de marido e mulher terem o mesmo nome criou-se, por muitos anos, entre os candeenses, o mito de que o casamento de ambos de nomes iguais não teria sorte.

 

Até hoje, após mais de sessenta anos, vem à tona de minha memória todos esses quadros de horror que entrou pelos meus olhos, passou pelo meu cérebro e ficou estacionado dentro do meu coração.

 

O mundo não está ameaçado pelas pessoas más e sim por aquelas que permitem a maldade. (Albert Einstein)

 

Armando Melo de Castro

Candeias Casos e acasos.

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