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terça-feira, 21 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
UM PEDIDO DE EMPRÉSTIMO
Da casa de minha mãe, em Candeias, para ir ao Supermercado Faria é um sacrifício. A Rua José Hilário da Silva tem uma subidinha terrível. E eu, já com os meus sessenta e oito anos, não tenho tanta disposição para ficar subindo ladeiras. Num passo lento, dá para ir bem. Mas, a passos largos, a gente chega ao ponto final da linha pondo a alma pela boca.
Dizem que, para se encontrar com o diabo, não precisa madrugar e isso é uma verdade. Ontem, por volta das 11 horas, minha mãe me pediu para comprar uma carne para o almoço com a recomendação de não demorar porque a moça que faz a comida “já ia colocar a panela no fogo” em uma forma bem familiar de dizer para não demorar.
Às vezes, eu me encontro com um amigo e me pego no papo sempre deixando alguém a esperar. Evito fazer esse percurso de carro para sair um pouco do sedentarismo que a vida me impõe graças ao uso indiscriminado do controle remoto, do celular, do automóvel e outras facilidades advindas do modernismo.
De tanto a minha mãe falar para não demorar, acabei subindo o morro um pouco apressado o que me levou a chegar ao supermercado cansado.
Como subi apressado, era minha intenção descer, também, apressado. Mas, quando vou descendo, nas imediações da Praça da Fraternidade, vem subindo, por ali, aquela senhora amiga que sempre me azucrina, mas, que sempre me prende no papo. Uma verdadeira peça rara. Um tipo de gente que se dela for um amigo não há nenhuma necessidade de ter um inimigo. Sua vida é um drama que poderia se transformar em uma novela da Rede Globo.
Quando a vi pensei: “Ai, Meu Pai dos Céus, justamente agora!.” Já pude imaginar qual poderia ser o assunto... Uma pessoa que sempre está pondo mãos postas e lamentando a ausência dos seus filhos.
Há dias que me dá uma vontade de lhe perguntar por que não nasceu rica!? Poxa! A mulher só sabe reclamar da vida, da ausência dos filhos! Da chatice do marido! Meu Deus, como tem gente aborrecida, neste mundo!
-- Oi, Sô Armando, lá vai com pressa? O que que foi? Tem alguém morrendo?
--Não. É que eu fui comprar uma carne para o almoço e a panela já está no fogo...
--Ah! Tem dó, Sô Armando, onde já se viu isso... Põe a panela no fogo e sai pra rua.
Homem é bicho burro mesmo.
---Quando disse que a panela está no fogo se trata de uma forma de dizer que estou com pressa, mas, na verdade, não tem nenhuma panela no fogo.
--- Sô Armando, hoje eu ricibi uma carta da minha fia. Ela falou bonito dimais na carta, Sô Armando! O senhor sabe que eu até chorei?
---Mas, o que houve que lhe causou lágrimas?
---A minha fia, Sô Armando, que ganhava dois salários, por mês, agora vai ganhar treis, Sô Armando! Treis salário, Sô Armando, e o senhor já pensou?
---Já! Já pensei. Agora, ela vai lhe mandar um de presente, não vai?
---Tá sorto, Sô Armando! Tá sorto! Quem me dera! ---- Ela é assim: se ganha um, gasta dois; se ganha dois, gasta treis e se ganha treis, gasta quatro. Já está lá, comprando um celular novinho, coisa chique mesmo...
---Mas, você tem que ensiná-la a administrar o dinheiro. Isso é uma questão de ensinamento...
---Que mané ensinamento, Sô Armando! Parece que o senhor nunca criou um fio. Óia, eu ensino dum jeito, eles faz do outro? Eu só ensinei ela a ganhar, mas, ela só aprendeu a gastar... Foi embora e me deixou, aqui, dando a cara à tapa para as dívidas dela. Manicura, cabilerêra, prestação de rôpa. Um fregi de conta pra pagá em cima de mim. E ela num manda nada. E ainda vive pedindo.
---E você dá?
---Uai, mãe é mãe, né, Sô Armando! Mas eu nunca tenho!
---Mãe é boba, você deveria dizer!
---O senhor porque não é mãe.
---E o pai dela!?
--- Que nada. O pai dela num tá nem aí. Cobra dele e ele só fala: A hora que ela chegar aqui, eu mando ela ir lá... E, assim, ele vai enrolando tamém. E, lá em casa, só eu que tenho cara pra crescer, cara para ficar vermelha e cara para cair no chão. Eu já num to agüentando mais. Eu, tamém, tô tendo que enrolar. Eu num tenho como virar dinheiro. O trem é brabo...
---Olha, você me dá licença porque minha mãe está esperando a carne...
---Não, Sô Armando, espera só um pouquinho! Eu estou precisando falar com o senhor e é muito importante para mim.
---Então diga...
---Será que dá para o senhor me emprestar cem reais?
---Parece que nós temos um pequeno acerto antigo, não temos?
---Uai, de quê, Sô Armando?
---Você não se lembra?
---Uai, num lembro não...
---Bom. Então, deixa isso pra lá. Como você ia dizendo?...
---Então, tá bão! Eu queria ver se o senhor me empresta cem reais, por uns dias pouco.
---Eu conheço esse filme. Se eu lhe emprestar, quem vai pagar? Ela ou você?
---Bem, Sô Armando, é ela. Eu não tenho como. E, depois, como o senhor sabe, eu tenho recebido cobrança de dividas dela, desde que foi embora. A menina é discabiciada. Deixou unha, cabelo, farmácia, tudo pra eu pagar e já recebi outras cobranças...
---Olha, eu não tenho esse dinheiro, senão, eu lhe emprestava.
---O quê, Sô Armando?!!! O Sr. num tem cem conto? Engana eu que eu gosto. Deus vai castigar o senhor por falar uma mentira desse tamanho. Se o senhor num quer me emprestar eu até entendo, mas, dizer que num tem. Nossa, Meu Deus! Que pecado! Que coisa feia, Sô Armando, menti assim, tão descaradamente. Eu num vou ficar com raiva do senhor não, mas, tem gente que fica.
--- Olha, eu vou ser franco com você. A gente empresta quando sabe que vai receber. Do jeito que você está falando, eu não vou receber nem no dia de São Nunca.
---Bem, Sô Armando, já que o senhor não tem os cobres, ou num quer emprestar, bem que podia pedir a sua mãe para emprestar para mim...
---Eu! Pedir a minha mãe para emprestar para você?! Tenha a santa paciência.
---É, Sô Armando. O senhor é um amigo igual banheiro intupido: num pode usar quando pricisa. É uma torneira sem água, numa pia cheia de trem sujo. É uma cama sem colchão pra quem tá com sono. É fogão sem fogo pra quem quer conzinhar. Amizade, assim, num adianta, uai!
----Então até logo, outra hora a gente conversa mais...
domingo, 5 de junho de 2011
UMA FERIDA CANDEENSE
---O local era frequentado pelo povo de Campo Belo, que tinha a usina de Candeias como um passeio turístico.
---- Aos domingos, principalmente, carros e caminhões do tipo pau-de-arara, dirigiam-se para aquele local a fim de se banhar e pescar. E como tinha peixe! Lambaris, piabas, cascudos, mandis e muitas outras espécies eram pescados entre aquelas pedras, pois havia ali diversos tanques. O local era também servido ao povo de Campo Belo, principalmente no verão.
---Lembro-me do Zequinha da Donate. Ele era ainda bem criança e nadava feito um peixe, mergulhava-se e saía sempre com um peixe na mão.
---As pessoas assando churrasco, bebendo cerveja e tudo era uma alegria. Acontecia, de quando em vez, uma briguinha que não ia para frente porque a turma do “deixa-disso” logo dava um jeito.
---Na área, existia um chalé onde sediava o Clube dos 21. Eram vinte e um sócios, dos quais me lembro do Luizinho Bonaccorsi, Midinho, Orlando do Melão, e outros.
---O ambiente era saudável e não havia deturpação. Parece-me que naquele tempo as pessoas tinham mais compromisso com a cidadania, com a civilidade o que, infelizmente, tem faltado muito, nos dias atuais.
Pessoas idosas frequentavam em comum àquele local. Pessoas requintadas da nossa sociedade iam ali, se divertiam e voltavam satisfeitas. O povo candeense, se misturava sem preconceitos; era o negro e o branco; o rico e o pobre; o feio e o bonito. ---- A beira do canal da usina, próximo da casa dos usineiros, era gente cantando ao som de violão; assando carne, bebendo cerveja quase quente e tomando cachaça. Que tempo bom meu Deus! Aquilo não poderia ter acabado. Os usineiros sempre emprestava um quarto para as senhoras trocarem de roupa e as suas salas para pessoas idosas.
---Estava sempre presente um vendedor de bebidas ambulante, com cerveja gelada, levada através de um tambor com barras de gelo com serragem. Gelo que era fornecido em barras pela manteigueira.
---Era interessante para as crianças quando ficavam conhecendo o local onde era gerada a energia elétrica que iluminava a cidade. Eu fiquei abismado quando vi, pela primeira vez, as máquinas que produziam a luz que iluminava as nossas casas. Lembro-me, ainda, do meu pai tentando me explicar como era feita esta transformação. Lembro-me da minha curiosidade em saber como transformar água em luz.
---À porta da usina, havia um grande passeio no qual os pescadores, em outros dias, à noite, estendiam os seus lençóis próximos de uma pequena fogueira, debaixo do pé de manga até hoje lá existente. Comiam, bebiam e dormiam. Meu pai era um desses pescadores e sempre se me fazia acompanhá-lo
---A casa com as duas residências dos usineiros e o canal deveriam ter sido aproveitados como um clube campestre municipal.
Sabe-se que em muitas cidades, onde as prefeituras se tornaram proprietárias de usinas que antecederam a Cemig, foram transformadas em pontos turísticos para o povo. A cultura de preservação do patrimônio público estava presente nesses municípios. Privilégio que o povo de Candeias não teve.
---Infelizmente nada foi aproveitado. Até o galpão todo construído de pedra, onde fora instalada as máquinas geradoras, foi aproveitado, tendo sido destruído deixando apenas um rastro da falta de sensibilidade, falta de amor e falta de competência administrativa dos responsáveis de então. Nada foi conservado como herança para as novas gerações.
--Aqui, em Candeias, aquele local onde poderia estar à vista dos nossos jovens um local histórico, está os sinais da destruição desalmada; da irresponsabilidade daqueles que detinham o poder na época dessa transição. Nem o galpão, todo construído de pedra onde foi instalada a usina, mereceu ser preservado. Parece até, que o instinto de destruição dos responsáveis exercera ali o impulso inato da insensibilidade; da falta de respeito com aqueles que teria construído um capítulo importante da história de Candeias.
--- A outra destruição foi na Serra do Senhor Bom Jesus. Ali poderia ter sido reservado para um parque ecológico bem próximo à zona urbana. ----- Candeias tendo diversas pedreiras em seu município poderia as pedreiras da Serra do Senhor Bom Jesus terem sido poupadas da destruição. No entanto os responsáveis pelo município permitiram a destruição de uma área que jamais poderia ter sido agredida pela indústria da pedra. Mas as mazelas dos responsáveis, cuja ignorância exigida para o poder público seria dispensada, permitiu mais esse prejuízo para a história do nosso município.
--Na Serra do Senhor Bom Jesus, os jovens faziam os passeios dominicais, chamados piqueniques. Os namorados se juntavam num grupo, muitas vezes acompanhados pelos pais e levavam os lanches na época chamados de “merenda” ou, até mesmo, de uma refeição leve. Não existiam os rádios à pilha, portanto, para o barulho sonoro era levado um violão. E, debaixo de uma árvore, a turma se reunia, quase sempre, perto de uma grande pedra onde, muitas outras, serviam de mesa e de bancos. A área tinha diversas frutas silvestres como guabiroba, araticum-cagão, marmelada-de-cachorro, araçá e muitas outras, cada uma no seu tempo.
---Meu Deus! Como nós que amamos a terra em que nascemos, precisamos de alguém que cuide bem de nossa tão querida terra Candeias. Alguém que a preserve e a ame de verdade.
---Infelizmente a nossa história está marcada por capítulos tristes, que poderiam ser evitados. É lamentável... Deveras lamentável.
Armando Melo de Castro.
sábado, 4 de junho de 2011
O ESPÍRITA DOIDÃO
Isso aqui é uma casa de Deus.
Pra mim isso aqui num é lugar de cunversa fiada.
E é lugar de silêncio.
Esse povo que fica aí na porta, só falano coisa que não deve, tá errado.
A Bíblia fala que Jesus vai vortá, aqui, um dia desse.
Se Ele chega aqui, agora, cume qui nóis fica com essa farta de respeito?
Assim, o que eu quero aqui é pedir para esses irmão cala o bico porque se Jesus chega aqui, hoje, nóis tá vai tá tudo fudido.