Eu fico vendo como os cachorros são animais queridos. Como estão preferidos. Os pais já não se preocupam em comprar bonecos ou caminhõezinhos para dar de presente aos filhos. Preferem um cachorrinho que dorme no canto da cama e é chamado de filhinho, de netinho, de fofura e outros adjetivos mais.
O mercado de compra e venda desses animais se expandiu e as lojas de produtos e prestações de serviço estão em plena evolução.
Segundo dizem, o cachorro tem sido o grande amigo do homem há mais de 300 mil anos. O homem ia caçar e, como o cachorro não fazia parte do cardápio, acabou sendo domesticado e os dois passaram a viver juntos.
É, realmente, um companheiro muito fiel. O cão defende o seu dono como se esse fosse um filhote seu. E quando se ausentam, ambos são envolvidos com o sentimento da saudade.
Lembro-me de um caso singular sobre o relacionamento de um cão com os seus donos: Na Rua Coronel João Afonso, onde se encontra a atual loja do Paulinho Vilela, morava, em tempos idos, um casal sem filhos: Henrique Sotero e sua mulher Maria. Eles possuíam um cão da raça Fila Mestiço. Era um cão grande, de nome Lírio, dócil, castanho amarelado e que ficava o dia todo ao lado do seu dono sempre assentado num banquinho desses porta-de-rua.
O mercado de compra e venda desses animais se expandiu e as lojas de produtos e prestações de serviço estão em plena evolução.
Segundo dizem, o cachorro tem sido o grande amigo do homem há mais de 300 mil anos. O homem ia caçar e, como o cachorro não fazia parte do cardápio, acabou sendo domesticado e os dois passaram a viver juntos.
É, realmente, um companheiro muito fiel. O cão defende o seu dono como se esse fosse um filhote seu. E quando se ausentam, ambos são envolvidos com o sentimento da saudade.
Lembro-me de um caso singular sobre o relacionamento de um cão com os seus donos: Na Rua Coronel João Afonso, onde se encontra a atual loja do Paulinho Vilela, morava, em tempos idos, um casal sem filhos: Henrique Sotero e sua mulher Maria. Eles possuíam um cão da raça Fila Mestiço. Era um cão grande, de nome Lírio, dócil, castanho amarelado e que ficava o dia todo ao lado do seu dono sempre assentado num banquinho desses porta-de-rua.
Naquele tempo, o serviço de correio era moroso. As cartas eram transportadas em trens de ferro e demoravam dias para chegar ao seu destinatário. Em cidades como Oliveira, Cristais, Itapecerica, ou seja, cidades que não eram ligadas diretamente pela linha férrea, a correspondência, além de demorar mais, frequentemente era extraviada. Os moradores da zona rural eram bastante isolados e ficavam meses sem vir na cidade. Cartas ou recados, nesses pontos, quando com certa urgência, eram enviados por mãos próprias através dos chamados mandaletes.
Henrique era o mandalete mais procurado da cidade. Comumente, ia à cidade de Oliveira levar correspondência ou encomenda ao Bispo, por ordem do Monsenhor Joaquim de Castro quando, então, viajava à noite inteira de bicicleta ou a pé, empurrando um carrinho com a encomenda.
E, nessas viagens, Henrique Sotero se fazia acompanhado pelo seu fiel amigo Lírio.
Muitas vezes, eu pude ver a exigência da Maria do Henrique, quando no açougue do Antonio do Orcilino, encomendando uma fressura suculenta para fazer o sarapatel do Lírio. Quem via a Maria do Henrique falar do sarapatel do Lírio, ficava com a boca cheia de água e com vontade de almoçar com ele. Certa vez, eu a ouvi dizendo que o Lírio havia experimentado galinha cabidela e tinha adorado. Para quem não sabe, galinha cabidela é frango ao molho pardo. Outra coisa, também, que o Lírio saboreava, de vez em quando, era um “Montese”. Montese era um guaranazinho, tipo água de rapadura, antigo, fabricado em Campo Belo e muito popular entre a meninada candeense.
Um dia, o Lírio adoeceu. Foi um deus-nos-acuda. Procuraram o Dr. Renato Vieira. Mas, Dr. Renato se esquivou de receitar remédio para cachorro e indicou um veterinário sem diploma que havia na cidade, o Cazildo. Durante alguns dias Cazildo passou a ir ver o Lírio duas vezes ao dia a fim de tomar conta do seu estado de saúde.
O Lírio recebia visitas. E, como todo mundo tem uma inclinação em ser curador, essas visitas receitavam, mas o Lírio continuava a sua caminhada rumo à morte.
Maria chorava... Henrique chorava... Enfim, o Lírio morreu. E Maria quase morreu, também. Henrique foi providenciar o enterro. Naquele tempo, o Cemitério São Francisco era administrado pela Igreja. Henrique queria sepultá-lo no Cemitério de humanos e não ficou sem uma bronca do padre que o chamou de herege deixando-o sem saber o que era isso. ---- O padre me chamou de um nome que eu nunca escutei --- diria, mais tarde, revoltado, contra a igreja e desistente de ser católico.
Diante da negativa de enterrar o cão no Cemitério São Francisco, restou-lhes a alternativa de enterrá-lo nos fundos do quintal. Assim, foram tomadas as providências urgentes. Vicente Cornélio, o carpinteiro, foi procurado para fazer a urna funerária, inclusive, envolvida em pano roxo, segundo então, o preceito da igreja católica para os funerais humanos. Zé Pulga, o pedreiro, foi incumbido de fazer o túmulo recomendado, insistentemente, pela Maria, para colocar uma cruzinha sobre o mesmo. Portanto, não faltou, também, o símbolo maior da Cristandade. Joaquim Fortunato, acostumado com rezas bravas, foi o único benzedeiro que aceitou fazer a encomendação do corpo.
Velas, flores e visitas concluíram as pompas do velório do Lírio. Lembro-me que eu estive lá junto a outros meninos e fomos expulsos, em virtude do nosso riso, à vista daquela esdruxularia.
Como se vê, o cão é um animal distinto. Ocupa um grande espaço na literatura e tem sido grande inspiração para poetas devido a sua afinidade e fidelidade com o homem.
Eu também tive uma cadelinha. Uma pequena vira-lata que me valeu muitas alegrias e muitas lágrimas. Essa cachorrinha me foi dada de presente por uma senhora chamada Rola que residia numa velha casa existente onde hoje está localizada a loja “Mil Opções”.
Lembro-me, como se hoje fosse, o dia em que fui buscar a minha querida Tutuca, ainda filhotinha.
Vários foram os anos de convívio com a minha cachorrinha. Até hoje, eu a tenho bem guardada nas gavetas da minha memória.
Clovis Cambraia era fiscal da Prefeitura e, naquele tempo, os fiscais traziam consigo bolas de carne envenenadas para matar cachorros soltos pelas ruas. A minha cachorrinha nunca teria andado solta. Não saía de casa. Era graciosa e jamais teria aborrecido alguém. Vivia me fazendo festas, mantinha-se sempre deitadinha na porta de casa e não latia com ninguém. A noite, dormia aos pés da minha cama. Era dócil e educada. Clóvis, como não gostava de animais, talvez, envolvido por algum trauma trazido da guerra, matou a minha cachorrinha quieta, na porta de minha casa. Matou, por matar. Matou, por gostar de matar. Matou apenas para satisfazer o seu ódio inato contra os animais.
Esse é o pior dos guardados que tenho dentre as gavetas das minhas lembranças...
Armando Melo de Castro
candeiasmg.blogspot.com
Candeias – Minas Gerais
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