A morte se pensarmos bem, é uma recompensa e se a tememos é porque estamos contaminados pelos sentimentos de apego aos bens materiais. Pensa-se que a morte nos leva e nunca nos busca. É verdade que quando perdemos um ente querido o sentimento de perda se aflora como resíduo do amor dispensado durante o convívio. Portanto, nessas horas, podemos contar com a piedade alheia porque esse é o lenitivo para os momentos difíceis e que nunca deveria nos faltar. Assim, faço neste texto uma presença da morte sem, contudo, marcar a resignação digna de um estoico. No momento que traço essas linhas, penso nas pessoas com as quais convivi durante esta vida e que já não estão mais respirando o ar deste planeta.
Sempre visito o cemitério São Francisco, onde
grande parte das lápides me traz uma recordação de vida, ou seja, daqueles que
se foram deixando o exemplo do dever cumprido perante o Criador; sobretudo, o
meu pai... O meu querido pai Zé Delminda, com quem converso como se estivesse
vivo ali, aguardando a minha visita. Converso, também, com os meus amigos...
Quantos e quantos estão lá... Sinto uma saudade danada e procuro ludibriar a
morte fazendo de conta que todos aqueles amigos guardados naquele campo santo,
estejam vivos, bem vivos, porque não morreram nas minhas lembranças, me faço
sentir que estão apenas encantados.
Ontem, estive assistindo a retreta de uma banda e naquele
momento me fiz viajar nas minhas lembranças para muito longe quando estive
presente no cemitério São Francisco no sepultamento do meu amigo João Virgílio
Ribeiro, o João do Sô Nico... Era um grande amigo e gostava de ler esses casos
que escrevo remexendo, como brasas, as lembranças guardadas debaixo das cinzas
da minha juventude... João Virgílio Ribeiro, o João do Sô Nico foi sempre um
amigo do meu pai e consequentemente de toda a minha família.
João era músico nato. Trazia no sangue o afluxo da música.
Durante muitos e muitos anos foi membro importante da Banda Musical de Candeias
e do Jaz do Américo Bonaccorsi. Lembro-me, quando ainda menino e acompanhava
meu pai nos ensaios do “Tiro e Queda” (Jaz do Américo) Lá estava o João, arrumando apelido para todo mundo, contando os seus casos e rindo das brigas dos colegas, porque havia os
incompatíveis durante os ensaios. E o meu amigo João logo bradava: Gente! Vamos
tocar... Parem com essa brigalhada cambada!...
O Jaz “Tiro e Queda” tinha como elenco: Américo no
Saxofone; João no Pistão; Zinho no Trombone; Luizinho do Américo na bateria; Zé
Delminda, meu pai, no violão; Pedrinho do Candola, no cavaquinho e Zé Vilela o
cantor. A maior parte desse conjunto já estava no céu, porém desfalcado, até o
dia seis de maio ultimo, do seu pistonista. Agora está completo lá no
céu. Chegou o seu último membro, João do Sô Nico, esperado por todos.
Meu amigo João Virgílio Ribeiro! Obrigado por sua amizade e
parabéns por ter sido o cidadão exemplar que você sempre foi... Obrigado pela
paciência com o meu mano Carlos, com aquela vespa velha... Obrigado pelo arroz
vermelho que você tantas vezes me deu gentilmente... Obrigado pelo som do seu
pistom destinado a alegrar o mundo e que doravante estará silencioso; contudo,
com certeza, não sairá das nossas lembranças. Seu sepultamento terá sido um dos
mais recheados de amigos.
A cidade parou para se despedir de você. Tal como que um
dia de festa santa, a banda musical, que você tanto amava, marcou presença e
lhe homenageava executando uma marcha triste, uma marcha lutuosa; um
agradecimento por tê-la pertencido durante maior parte de sua vida dando-lhe
vida às suas retretas. Mas, ali, naquele momento, parecia que a banda chorava
por você... Ao acomodar-se no seio da terra mãe, o seu túmulo foi inaugurado
com o silêncio determinado por um clarim... Melhor dizendo: por um pistão.
Uma festa triste, muito triste para nós, mas para você, com
certeza, terá sido muito alegre. Onde quer que esteja, meu bom amigo, receba o meu abraço e o
meu respeito.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
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