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quarta-feira, 13 de abril de 2011

CALITO E O RIO BRANCO E.C.


Na década de 20 existia, aqui em Candeias, um salão de barbeiro conhecido por todos como o Salão do Pedrinho. Situava-se na Avenida 17 de Dezembro onde se localiza hoje a Grazzy Modas.

Pedrinho (o meu bisavô) era o patriarca de uma prole de nove filhos dos quais três deles, também, eram barbeiros: Juquita, João Piruca e Carlos, o meu avô materno, conhecido pelo apelido de Calito. Exerciam a profissão neste salão o pai e dois filhos, o Juquita e o João.


Calito, tinha o seu salão na sua residência numa das quatro esquinas que formam as ruas Cel. João Afonso e Professor Portugal, onde atualmente reside a família do Sr. Antonio do Orcilino.
Calito - fanático torcedor do Rio Branco E.C.


    Foi barbeiro competente, tinha uma grande freguesia, num tempo em que Candeias tinha diversos profissionais desta área. Mas, era dado a estroinices e por isso nunca conseguiu muito na vida. De quando em vez invernava nos "goles"  e no carteado e daí o salão ficava fechado para balanço. Até que voltava a trabalhar para pagar as contas contraídas durante o período em que estivera invernado.

Trabalhando, Calito era uma pessoa pacata, tranquila. Bebendo era agitado, briguento e às vezes inconsequente, pois, muitas vezes, se tornava violento e era chegado numa arma de fogo, naqueles tempos dos delegados “calça-curta” quando Candeias era uma terra sem lei. Nesse tempo o Campo do Rio Branco Esporte Clube (o time do meu coração) ficava pouco abaixo da casa comercial do Vicente Vilela; e o futebol daquele tempo em Candeias, dava gosto.

O Rio Branco era um time ativo, com uma grande torcida e uma equipe de jogadores das melhores. Por muitas vezes ganhou no seu pequeno campo, partidas contra o Esparta e o Comercial de Campo Belo. A Associação Esportiva Candeense era o seu principal adversário porque neste tempo Candeias ainda não tinha o Clube Atlético Candeense.

Miguel Simões foi o fundador do time. A população da zona norte da cidade chegava a ser uma torcida fanática, aliás, não podemos nos esquecer que o Rio Branco é um time que está sufocado no esquecimento, mas já foi a “boa bola” candeense de outros tempos o que faz a sua torcida viver de saudade.

Nunca estava ausente nas grandes partidas o Monsenhor Castro, apostando sempre um engradado de cerveja, principalmente quando o jogo era contra a Associação. E o reverendo perdeu por muitas vezes as suas apostas por subestimar o vitorioso Rio Branco. Passarinho, um dos maiores ídolos do Rio Branco deve ter aprendido a tomar cerveja ganhada nas apostas do Monsenhor Castro.

Chico Viriço, o curador, sempre presente e com a cabeça cheia de pinga riscando o chão com uma faca tipo peixeira. Os irmãos “mulatos” João e Mané estavam sempre presentes na torcida-da-paulada. E o Calito, meu avô, se estivesse “invernado”, o bicho pegava.

Certa vez, veio jogar com o Rio Branco, o São Bento de Itapecerica. O São Bento estava atravessando a sua melhor fase. Havia ganhado todos os torneios lá pela região de Itapecerica e estava com a crista bem alta. A torcida do Rio Branco, por sua vez, não se deixava abater. Queria tirar à máscara, a crista, a fanfarra e tudo mais que elevava o São Bento. Faixas nos postes foram colocadas com dizeres agressivos de pouca hospitalidade aos visitantes.

Lá pelas três horas da tarde um caminhão tipo pau-de-arara pára defronte ao campo do Rio Branco. A torcida já começa a chegar e os jogadores acomodados em seu caminhão ficaram quietos aguardando a hora de entrar em campo.

Os insultos já começavam:

--- "Nois hoje vai mijá no tamanduá..." Outro já gritava do outro lado: --- "Que mané mijá, nois vai é cagá nesse bicho feio..." O campo recebendo a torcida, homens, mulheres e crianças. Quem não se divertia com o futebol se divertia com a brigalhada sempre prometida...

É chegada à hora do inicio do Jogo. O Juiz viera acompanhando o São Bento. Era sem dúvida um suicida. Tinha que ser um homem de muita coragem porque aquela partida mais parecia um espetáculo de uma arena romana.

Começa o jogo. A saída é favorável ao São Bento que num toque clássico leva todo o ataque para a área do Rio Branco. Uma cabeceada fatal faz com que o São Bento marque o seu primeiro gol em apenas um minuto.

Novo lance: um jogador do time visitante rola para a esquerda, avança, recebe de novo e toca para a pequena área quando lá já aguardava o atacante do São Bento, que num tiro leve faz o segundo gol com apenas três minutos de jogo.

O clima ficou tenso e as botinas começaram a trabalhar quando de repente Passarinho, o ídolo da torcida do Rio Branco, levou uma “botinada” que fez o neguinho rolar no chão de tanta dor. Ele que era o maior goleador do Rio Branco, agora meio contundido e diante de tanta marcação, não conseguia ver a cor da bola. Assim teve que sair deixando um espaço maior para o São Bento que veio a fazer o seu terceiro gol em menos de dez minutos do primeiro tempo.

Tudo indicava que ia ser a maior “lavada” da história do Rio Branco.

E diante daquele clima efervescente ouve-se um grito:

O desgraçado do São Bento que entrar na nossa área vai levar um tiro nas suas duas bolas e nunca mais vai querer saber de bola. Era o Calito, o meu avô, com uma garrucha na mão ao lado do gol, ameaçando quem se aproximasse da área do Rio Branco.

Não ficou nem um só jogador do São Bento em Campo. A torcida toda incitada via o caminhão saindo e jogadores do São Bento tomando o veículo em movimento.

Meu avô... Meu querido! Onde quer que esteja receba o meu beijo... Você era complicado com uma pingas na cabeça em dias de jogos do Rio Branco, mas era bom também... Isso era por amor ao Rio Branco, o nosso querido time que quando entrava no coração de alguém não saia nunca mais. 

O meu amor pelo Rio Branco é antigo e foi uma herança de meu pai e meu avô materno! 

Armando Melo de Castro
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