Mário Rigali, o nosso querido Piloto, nasceu na Italia e viveu a grande parte de sua vida em Candeias. ---- Foi um grande incentivador do progresso de Candeias. Teve grande influência sobre a construção de nossas praças, jardins e a estátua de bronze que representa os nossos pracinhas. Bom amigo, prestativo, caridoso e humilde, dedicou a maior parte de sua vida, colaborando com a construção da nossa história.
Não se serviam bebidas no balcão. Isso era exclusividade nas mesas e nos
reservados. Para isso havia diversas mesas onde o freguês era atendido. E já,
naquele tempo, o bar dispunha de dois excelentes funcionários, competentes e
responsáveis pais de família: Afonso Ferreira de Oliveira, o popular Afonso da
Alvarina, e Sebastião do Leonides. Esses dois candeenses, dignos de louvores,
fizeram as suas vidas iniciadas como funcionários do Bar Piloto.
Enquanto os funcionários trabalhavam, Piloto, sempre por ali conversando e num corpo-a-corpo com os fregueses dava uma ênfase de cordialidade.
O bar apresentava, nas prateleiras lotadas, variadas bebidas nacionais e estrangeiras; um longo balcão coberto de mármore sobre uma vitrine iluminada mostrando os produtos disponíveis, sendo esses de primeiríssima qualidade como bombons, chocolates, confeites e guloseimas ornamentadas.
À noite, o barulho era das vozes dos frequentadores, nas mesas trocando ideias e contando histórias diante de uma boa garrafa de vinho ou de cerveja. O requinte do ambiente inspirava o traje discreto dos fregueses e muitos desses se postavam de terno e gravata. O ambiente era frequentado por pessoas de todas as idades: de crianças a idosos.
Durante o dia, o silêncio era quebrado pela sonoridade de um rádio e o barulho da máquina de fabricar sorvetes e picolés. Uns picolés redondos e quadrados, dos mais variados sabores, cereja, limão, abacaxi e, ainda, o sorvete de coco queimado, uma verdadeira delícia!
Diante daquele turbilhão de lembranças, pude buscar, numa das gavetas do meu cérebro, o dia em que completei seis anos de vida. Era o dia 16 de janeiro de 1952, quando fui levado ao Bar Piloto pelo meu pai que me presenteou com um chocolate bem grande. Foi a primeira vez que comi um chocolate. Era uma grande barra com uma embalagem vermelha com umas listras brancas. O nome, ou seja, a marca, seria impossível poder lembrar. Eu só sei dizer que foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Com aquele chocolate nas mãos, cheguei a estar desesperado para correr para casa, mostrar para a minha mãe, arrancá-lo da embalagem, dar uma dentada e distribuir um pedacinho para cada uma das minhas duas irmãzinhas que, com certeza, iriam provar, muito primeiro do que eu na vida, aquele delicioso manjar dos deuses.
E minha mãe, ao me ver chegar com o chocolate disse logo: “Uai! Vocês foram ao Bar Piloto!?” Era assim. O Bar Piloto era também conhecido pelos seus produtos.
O tempo determinou que Piloto se dedicasse apenas às suas representações e resolveu passar o Bar para frente. E este veio a ser de propriedade do seu mais antigo funcionário, Afonso Ferreira de Oliveira. Posteriormente, foi vendido para a Senhora Nica, esposa do Sr. Bernardino Bonaccorsi, quando foi gerenciado, durante muito tempo, pelo seu filho Guido Bonaccorsi. Daí, o Bar foi repassado para os irmãos Cassiano, os populares “Cabaceiros”.
A cada mudança, evidentemente, o estabelecimento perdia um pouco da sua originalidade, contudo, até então, mantinha as características do verdadeiro Bar Piloto. Mas, a partir dos compradores dos “Cabaceiros”, o estabelecimento perdeu completamente as suas características e, hoje, resta apenas o nome.
A crueldade do tempo e o desinteresse cultural são os responsáveis pelo abandono em que se encontra o Bar Piloto. Já não bastasse isso, temos ainda que lamentar o porquê que a história de Candeias não preencha este capítulo em branco destinado ao Bar Piloto e ao seu fundador; o querido candeense por adoção: Mário Rigali.
É lamentável, também, que as autoridades constituídas, principalmente os senhores vereadores, entre um mandato e outro, durante tantos anos, não tenham tido a iniciativa de homenagear alguém que veio de tão longe para colaborar com tanto amor na construção da nossa história, a história de Candeias.
Sua esposa Elza partiu para São Paulo em busca de estudos para a filha Iara. Piloto aqui ficou. Não abandonou a terra que o adotou. Por muitas vezes, já morando em São Paulo, na década de 60, fui portador de suas encomendas para a sua esposa que nunca mais voltou para Candeias.
Faleceu no dia 26/03/1968, aos sessenta e seis anos, vítima de um câncer prostático e está sepultado no Cemitério São Francisco, onde na lápide do seu túmulo está escrito:
“O CORAÇÃO QUE SE DESFEZ EM VIDA, DOCE CANDEIAS, POR TE AMAR, EU TE DEI; AGORA, DÊ-ME TU, A GRAÇA DE ME SENTIR EM TI, DESFEITO.”
Onde quer que esteja, receba o meu abraço, meu bom amigo Piloto.
Armando Melo de Castro
Enquanto os funcionários trabalhavam, Piloto, sempre por ali conversando e num corpo-a-corpo com os fregueses dava uma ênfase de cordialidade.
O bar apresentava, nas prateleiras lotadas, variadas bebidas nacionais e estrangeiras; um longo balcão coberto de mármore sobre uma vitrine iluminada mostrando os produtos disponíveis, sendo esses de primeiríssima qualidade como bombons, chocolates, confeites e guloseimas ornamentadas.
À noite, o barulho era das vozes dos frequentadores, nas mesas trocando ideias e contando histórias diante de uma boa garrafa de vinho ou de cerveja. O requinte do ambiente inspirava o traje discreto dos fregueses e muitos desses se postavam de terno e gravata. O ambiente era frequentado por pessoas de todas as idades: de crianças a idosos.
Durante o dia, o silêncio era quebrado pela sonoridade de um rádio e o barulho da máquina de fabricar sorvetes e picolés. Uns picolés redondos e quadrados, dos mais variados sabores, cereja, limão, abacaxi e, ainda, o sorvete de coco queimado, uma verdadeira delícia!
Diante daquele turbilhão de lembranças, pude buscar, numa das gavetas do meu cérebro, o dia em que completei seis anos de vida. Era o dia 16 de janeiro de 1952, quando fui levado ao Bar Piloto pelo meu pai que me presenteou com um chocolate bem grande. Foi a primeira vez que comi um chocolate. Era uma grande barra com uma embalagem vermelha com umas listras brancas. O nome, ou seja, a marca, seria impossível poder lembrar. Eu só sei dizer que foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Com aquele chocolate nas mãos, cheguei a estar desesperado para correr para casa, mostrar para a minha mãe, arrancá-lo da embalagem, dar uma dentada e distribuir um pedacinho para cada uma das minhas duas irmãzinhas que, com certeza, iriam provar, muito primeiro do que eu na vida, aquele delicioso manjar dos deuses.
E minha mãe, ao me ver chegar com o chocolate disse logo: “Uai! Vocês foram ao Bar Piloto!?” Era assim. O Bar Piloto era também conhecido pelos seus produtos.
O tempo determinou que Piloto se dedicasse apenas às suas representações e resolveu passar o Bar para frente. E este veio a ser de propriedade do seu mais antigo funcionário, Afonso Ferreira de Oliveira. Posteriormente, foi vendido para a Senhora Nica, esposa do Sr. Bernardino Bonaccorsi, quando foi gerenciado, durante muito tempo, pelo seu filho Guido Bonaccorsi. Daí, o Bar foi repassado para os irmãos Cassiano, os populares “Cabaceiros”.
A cada mudança, evidentemente, o estabelecimento perdia um pouco da sua originalidade, contudo, até então, mantinha as características do verdadeiro Bar Piloto. Mas, a partir dos compradores dos “Cabaceiros”, o estabelecimento perdeu completamente as suas características e, hoje, resta apenas o nome.
A crueldade do tempo e o desinteresse cultural são os responsáveis pelo abandono em que se encontra o Bar Piloto. Já não bastasse isso, temos ainda que lamentar o porquê que a história de Candeias não preencha este capítulo em branco destinado ao Bar Piloto e ao seu fundador; o querido candeense por adoção: Mário Rigali.
É lamentável, também, que as autoridades constituídas, principalmente os senhores vereadores, entre um mandato e outro, durante tantos anos, não tenham tido a iniciativa de homenagear alguém que veio de tão longe para colaborar com tanto amor na construção da nossa história, a história de Candeias.
Sua esposa Elza partiu para São Paulo em busca de estudos para a filha Iara. Piloto aqui ficou. Não abandonou a terra que o adotou. Por muitas vezes, já morando em São Paulo, na década de 60, fui portador de suas encomendas para a sua esposa que nunca mais voltou para Candeias.
Faleceu no dia 26/03/1968, aos sessenta e seis anos, vítima de um câncer prostático e está sepultado no Cemitério São Francisco, onde na lápide do seu túmulo está escrito:
“O CORAÇÃO QUE SE DESFEZ EM VIDA, DOCE CANDEIAS, POR TE AMAR, EU TE DEI; AGORA, DÊ-ME TU, A GRAÇA DE ME SENTIR EM TI, DESFEITO.”
Onde quer que esteja, receba o meu abraço, meu bom amigo Piloto.
Armando Melo de Castro