No local onde se encontra
estabelecida a Casa do Vaqueiro, foi, no principio da década de 60, o Bar e
Restaurante Pinguim, de propriedade do Sr. Luiz de Sousa Andrade, o meu amigo Lulu.
Antes, esse pequeno estabelecimento teria sido a farmácia do Sr. Antônio do
Bieca, de quem teria sido discípulo o nosso amigo Divino, hoje proprietário da
Farmácia Divifarma.
Lulu, um personagem folclórico
da cidade de Candeias, foi primeiramente balconista da Casa Celestino
Bonaccorsi. Depois esteve nos Baiões, município de Formiga, onde a Casa
Bonaccorsi tinha uma filial. E após deixar de ser funcionário da Casa
Bonaccorsi, dedicou-se ao ramo de bar e restaurante. O seu primeiro
estabelecimento foi no cômodo de comercio que havia no antigo casarão do Sr.
Torquato Viglioni, onde hoje está a sede do Banco do Brasil.
Daquele endereço Lulu
transferiu o seu estabelecimento para o antigo Bar do Bóvio, que ficava onde
hoje está à residência do Sr. Willlian Viglioni. ----- Neste endereço o
comercio do Lulu não foi para frente. Ele teve alguns desencontros com o ramo e
fechou o comércio, ficando afastado de suas atividades durante algum tempo.
Posteriormente Lulu reabriu
o seu Bar e Restaurante com o nome de “PINGUIM”. Eu contava dezesseis anos e
fui seu empregado nesse tempo, o que me foi uma coisa bem divertida.
Eu em pleno aprendizado da
vida, em plena adolescência posso dizer que aprendi muito com o Lulu, isso
porque eu não era apenas um balconista do bar; eu fazia de tudo, por exemplo:
Varrer o quintal que era enorme; tratar dos porcos e lavar o chiqueiro; (Era permitido criar porcos na cidade) tratar
das galinhas, ajudar na lavação da louça, guardar a lenha, (não havia gás)
----- pajear os meninos, ou seja, o Marcos, o Sergio e o Claudio. Eles eram
pequeninos e o Claudio (Tibau) ainda no colo.
Lembro-me que um dos
fregueses diários do restaurante era o Pedro Pitanga, almoçava e jantava, eu o
aguardava para vê-lo tomar a sua refeição, principalmente quando era peixe. Eu
nunca vi na minha vida, uma pessoa comer um peixe tão depressa. Era uma coisa
impressionante, ele ia cuspindo a espinha do peixe e não se engasgava.
Lembro-me, ainda, de alguns dos fregueses mais constantes como, Domiciano
Pacheco; Miguel Pacheco; Marianinho Lamounier; Altivo do Estevão; Miguel Lara;
Antônio Eleutério; Turquinho da Pedreira (aquele que fez o pirulito de pedra
existente na praça próximo ao Sansão) Zé Belarmino; Maré e muitos outros.
O estabelecimento era
pequeno e havia no refeitório apenas quatro mesas e na área do bar apenas três.
O que mais me divertia como
funcionário do Lulu era o seu humor que na mesma hora que estava no sul ia para
o norte e quanto estava no norte poderia ir para o leste ou oeste. Era muito
engraçado.
Lulu teria saído para fazer
umas compras e entre elas estaria a uma galinha caipira para atender uma
galinhada de um freguês que queria comemorar o seu aniversário com uns amigos,
com essa iguaria.
Dona Teresinha, a esposa do
Lulu a cozinheira oficial da casa, fora para o Rio de janeiro visitar os seus
familiares. Para isso teria arrumado uma empregada para lhe substituir.
E ai deu-se inicio a uma
nova novela de relacionamento. A empregada protagonizou um belo show que tinha
como plateia os fregueses do bar.
Lulu chegou trazendo uma
galinha, um pacote de feijão e um filé de boi. ---- Ao chegar deixou as compras
na cozinha e veio para o balcão.
Na parede da cozinha tinha
uma janelinha por onde a cozinheira se comunicava com o Lulu. A empregada
espicha o pescoço naquela janelinha e fala bem alto:
-----Sô Lulu, essa galinha é
pra matá?
-----Não! Ela veio para
cantar na galinhada...
Passa mais um momento e
volta a emprega:
----Sô Lulu, esse feijão é
para cozinhar?
----Não, é para assar e bem
assado...
Não demorou quase nada volta
à empregada:
----Sô Lulu, e essa carne?
----Essa é para comer hoje e
cagar amanhã...
Dai a pouco a empregada
pegou a sua trouxa e partiu, resmungando... Deus me livre nunca lidei com um
trem desse não...
Não sei o que aconteceu, mas no outro dia a empregada
que se chamava Antônia estava lá de novo. ----- Lulu era assim, brigava com o
mundo todo, mas amava todo o mundo.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.