Este texto foi transferido para o livro Candeias MG Casos e Acasos.
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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
A VELHA ESTOUVADA.
Parque Halfeld (Juiz de Fora MG)
Contando com uma população de fato e flutuante beirando os
600 mil habitantes, Juiz de Fora, a importante cidade mineira, tem 18% de
população idosa. O idoso daqui parece que é diferente daqueles de outras
praças. É comum ver pessoas com idade acima dos oitenta anos pelas ruas
transitando entre os carros e correndo grande risco de acidentes.
O Parque Halfeld, localizado no centro da cidade, fica
durante o dia povoado de idosos conversando, jogando damas e outros
entretenimentos. E os assuntos mais evidentes são doenças, remédios,
aposentadoria defasada, o peso da idade, conjugado de acordo com o verbo, ou
seja, o passado que para todos tem uma medida de tempo muito grande... Um presente
sem ação e um futuro sem esperanças. Aliás, o que praticamente não se fala ali
é de futuro.
À tarde, por volta das seis horas, quando as calçadas estão
lotadas de pessoas apressadas, para lá e para cá, voltando do trabalho e o
comercio fechando as suas portas; vemos idosos de mãozinha dada, totalmente
descontraídos passeando vagarosamente em meio aquele tumulto de pessoas indo e
vindo sem nenhuma preocupação. Vão com os seus passos rasteiros na maior
tranquilidade de quem já cumpriu todos os seus compromissos com a vida. E se
alguém lhes esbarra ou lhes aborrece eles ficam bravos e há casos de até
citarem a lei 11.765, do Estatuto do Idoso.
Muitos idosos, às vezes, se tornam engraçados quando são
contrariados. Parece que querem que o mundo seja vazio, pequeno e por serem de
outras gerações e terem chegado primeiro aqui no planeta, julgam-se
proprietários de um espaço maior, quando na dura realidade o espaço do idoso
vai ficando dia após dia a cada vez menor.
Com passe livre nos ônibus coletivos por vezes agem com
esnobismo. E quando detêm alguém assentado nas poltronas destinadas a eles
pedem licença de forma determinada para que desocupem o lugar. Outras vezes
começam a resmungar, birrar, e até denunciar ao cobrador. Parece que gostam de
ser impertinentes e ranzinzas. Talvez por terem poucos problemas após uma vida
problemática.
Eu que já estou jogando no time dos idosos, às vezes, detenho-me
numa observação que me leva a pensar que ainda estou jovem diante dos acintes
desprovidos de maldades por certos idosos cujo tempo ao invés de lhes deixar
mais cautelosos os fazem impacientes em demasia.
Ontem quando eu me dirigia até ao Alto da Gloria, aqui em
Juiz de Fora, a fim de comprar uma ração especial para a cachorrinha da minha
filha, resolvi tomar um ônibus próximo daqui de casa, na Avenida Rio Branco. E
logo que adentrei o coletivo, no segundo ponto, entrou um jovem cego, auxiliado
por outro passageiro. O deficiente visual foi acomodado numa das poltronas
destinadas aos passageiros de passes livre, ou seja, que não pagam passagens
incluindo idosos, deficientes, gravidas etc. O rapaz ao ocupar o último acento
disponível fez com que a área destinada se completasse.
Mais adiante entrou uma senhora contando uns setenta e tantos
anos, baixinha, magrinha, olhos esbugalhados, boca pequena, nariz avermelhado,
cabelo enrodilhados e um buço respeitável... Parece que tinha também cabelo nas
ventas. Um perfil de quem vinha para criar caso. Só lhe faltava estar escrito em
sua testa: “Eu sou chata”. Entrou, olhou para um lado olhou para o outro e em
meio minuto, tinha-se-lhe soltado completamente a língua; e dirigindo-se ao
cego disse-lhe:
----“Aqui num é procê não moço, o seu lugar é lá atráis... Eu
tenho direito purque tenho quais oitenta ano.”.
Alguém tentou lhe explicar que se tratava de um deficiente e
que lhe era permitido estar ali. Mas a velha insistiu:
----“Ele é novo e o que tem sê cego? Lá perto de casa tem um
cego lá que é cego só na hora que sai na rua. Vive vigiano a vida dos ôto. Tem
pôco tempo ele arrumou um futico danado com o nome da minha vizinha, falano que
ela tava andano com o vizinho da rua de baxo. Esses cego de hoje inxerga mais
do que morcego sô!. Esse memo ai foi lá em Santos Dumont vê show do Gino e
Geno... O qui tem de cego bão da vista ai num dá nem pá conta... Num me ingana
não purque eu num gosto!”.
Diante disso, eu me levantei a fim de ser cavalheiro e
ofereci o meu assento para a velha que protestou logo:
---- “De jeito nenhum! Não sinhor meu sinhor, pode fica
sentado. O sinhor parece que é mais veio do que eu!”.
Enquanto isso o cego
indignado, pediu para descer no próximo ponto, enquanto a velha assentou e se
sentiu a dona do mundo.
Agora eu, tive uma vontade danada de lhe dizer: --- Velha
chata, você é cega, procure olha que entre mim e você tem uma diferença de
idade muito grande... Eu tenho só 69 anos e não estou na hora da morte não
viu!?
Mas preferi não ser um velho chato. Dei o sinal e desci,
eu já estava chegando ao fim da viagem.
Armando Melo de Castro
Candeias Casos e Acasos.
domingo, 8 de fevereiro de 2015
PADARIA ANDRADE
O Blog
Candeias MG Casos e Acasos fará hoje uma homenagem ao fundador de uma das mais
tradicionais empresas candeenses, e a mais antiga no seu ramo de atuação, ou
seja, indústria de panificação. Estamos falando do candeense amigo, Mozart de
Souza Andrade, filho de José de Souza Andrade e Dona Zenóbia Lara.
Nascido no dia 11 de janeiro de 1917, na comunidade rural de
Boa Vista, em Candeias, teve uma adolescência muito humilde como lavrador, contudo
foi um menino muito feliz. Aos 22 anos de idade resolveu se mudar para a cidade
em busca do seu espaço próprio. Foi balconista entre outras atividades. Dono de
um talento empresarial explícito, já em 1950 resolveu montar o seu próprio
negócio. Foi quando nasceu a Padaria Andrade, uma pequenina padaria junto à
residência de sua mãe.
Tudo que é necessário para que uma pequena empresa venha a crescer,
Mozart tinha com sobra: honestidade, perseverança, vontade de trabalhar, tato
comercial e qualidade dos produtos.
No princípio era ele quem fazia tudo. Sabe-se que os padeiros
trabalham a noite. E fica difícil saber a que horas Mozart descansava ou
dormia. Amassava, assava e ainda saia vendendo. Não tinha loja nesse tempo,
Dona Zenóbia sua mãe, o ajudava vendendo os produtos à porta quando ele não
estava.
Um lançamento de Mozart à época foram os cartões. O freguês comprava os cartões para o mês todo. Cartões de valores diversos. Era uma forma de vender a prazo onde o freguês não tinha como duvidar do vendedor. Compra de cartões com pagamento antecipado, tinha um desconto de 10%.
Lembro-me de ver as pessoas pagar os pães com cartões.
Durante muitos anos Mozart foi visto pelas ruas com o seu balaio de pão até que foi crescendo, ampliando o negócio e admitindo funcionários.
Nas festas da Semana Santa ou do Rosário, a Padaria Andrade
funcionava dia e noite. Naquele tempo durante esses eventos a cidade dobrava a
sua população, isso porque vinham os candeenses ausentes de outras cidades;
mais aqueles da zona rural. Não existia o êxodo rural verificado nos dias
atuais. A produção nesses dias tinha que ser aumentada. Pessoas fora do ramo
procuravam Mozart e pediam um balaio de pão e saiam à procura de fregueses
eventuais. Eu mesmo fiz isso certa vez. A meninada ganhava um bom dinheiro.
Mozart sempre recomendava não por a mão nos pães, e fazer o uso do pegador que
ele fornecia.
Entre os produtos da Padaria Andrade, há um que eu nunca me
esqueço; era o pão tatu, talvez pelo nome exótico de um pão; além da famosa
rosca da rainha e do pão sovado, originalmente conhecido por São José e com um
incremento diferenciado, a semente de erva doce; até hoje fabricado em dias
distintos.
Mozart foi sempre um grande amigo. Viveu a vida em prol da
família, sua mãe, Dona Zenóbia, esposa, Maria e seus três filhos, Nilton,
Zenóbia (Preta) e Cidinha, para os quais deixou um legado moral e financeiro.
Seu esporte favorito era o futebol ao qual dedicava nos seus raros momentos de
folga.
A Padaria Andrade encontra-se situada no mesmo local de sua
fundação, na Rua Celestino Bonaccorsi, 44 onde nasceu, cresceu e se encontra
até hoje. Teve um grande desenvolvimento
estrutural, inclusive com filial em Formiga. Vem sendo muito bem administrada
pelo herdeiro da empresa, Sr. Nilton Andrade, um empresário que busca na
modernidade o crescimento necessário imposto pelo mercado, além de seguir à
risca os bons princípios morais e profissionais de seu tão querido pai. E isso,
faz com que a Padaria Andrade, hoje acumulando a função de lanchonete, vem sem
dúvida alguma, liderando em Candeias, o mercado de panificação.
Parabéns Nilton Andrade por dar continuidade a um trabalho
que não poderia realmente ser interrompido, tendo em vista a circunstância com
que foi começado. Que Deus o abençoe para que a Padaria Andrade continue
fazendo história --- a História de Candeias.
E a você meu amigo Mozart Andrade, onde quer que esteja, receba o nosso abraço e parabéns pela missão cumprida.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
JOÃO BERNARDINO DINIZ
Hoje o Blog Candeias Casos e acasos fará uma homenagem ao
nosso conterrâneo e amigo João Bernardino Diniz; conhecido por “João Surdo”.
Esse apelido tenha sido, talvez, pelo fato de João falar alto, porque a bem da
verdade, a sua surdez não lhe faria merecer tal cognome.
Nascido no dia 14 de agosto de 1914, filho de José
Bernardino de Sena e Lourdina Lamounier, João passou a sua infância na fazenda
do seu avô, figura histórica da elite candeense, o Coronel João Afonso Lamounier.
Candeias, grande produtora de café era procurada por pessoas
de outras cidades na época da colheita. Numa dessas oportunidades João conheceu
Jacira Donata de Jesus, oriunda da cidade de Claudio, MG. O namoro começou
contra a vontade dos familiares, porque casamento de empregados com filhos de
patrões não eram aceitos. Mesmo com essa contrariedade familiar o casamento
aconteceu no ano de 1935, e João foi ser usineiro na Empresa Força e Luz
Candeense, então, recentemente instalada e de propriedade do empresário
Celestino Bonaccorsi, que fornecia força e Luz para a cidade.
João Bernardino era muito inteligente e após um curto
período como usineiro foi convidado a vir para a cidade e ser o eletricista chefe
da empresa, cargo que exerceu até se aposentar.
Homem agitado; estava sempre às pressas dado ao acúmulo de
serviço. Era ele sozinho o responsável e apenas em operações específicas era
auxiliado por eventuais companheiros.
Atendia as reclamações de consumidores e dava soluções. Efetuava cortes
e novas ligações. Corrigia defeitos na rede, enfim era ele que fazia tudo.
Durante anos e mais anos João foi visto subindo e descendo com uma escada nas
costas. Somente mais tarde veio ser auxiliado pelo seu filho Danilo.
Foi uma pessoa admirável. Cidadão correto, honesto, exemplar
pai de família rígido na disciplina, criou oito filhos, sendo eles, Nilsa,
Danilo, Waldir, Marlene, Marilene, Marli, Marlei e Deusdete, todos bem criados
e bem orientados. Sua esposa, Dona Jacira felizmente vive bem se deslizando dos
entraves da idade avançada.
João faleceu no dia 11 de fevereiro de 1998 aos 83 anos de
idade, deixando para os seus familiares e amigos uma história exemplar de um
homem que nasceu em berço rico, mas soube viver pobre em troca de um
ideal. Que teve o trabalho e a família
como seus principais deveres e os amigos como direito.
Onde quer que esteja meu amigo João Bernardino Diniz, receba
o nosso abraço.
Texto: Évelin Diniz e Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
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