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sábado, 3 de janeiro de 2015

A CANDEIAS EM QUE NASCI


Nos dias atuais os pais conscientes de suas posses já não enchem a casa de filhos como era comum no passado. Parece que os pais de antigamente não tinham muita consciência disso e se deixavam levar pelas circunstâncias. Afinal, ou não sabiam o que era a pílula ante concepcional ou ela não existia. Não sabiam o que era uma camisinha ou esta também não existia. Coito interrompido nem pensar. A mente não combinava com isso, principalmente a do homem. 

Além disso, a igreja batia muito nessa tecla de que evitar filho era pecado. Na maioria das famílias era um filho no saco e outro no bucho, como assim diziam.  A mulher não trabalhava fora, e a sua missão era praticamente criar a família. Não havia renda per capita na família e se houvesse seria pela a ajuda da mulher lavando roupa para fora, fazendo doces e quitandas para ser vendidos nos bares e ou pelos filhos de porta em porta.

 De outra forma não existiam tantos produtos industrializados com existem hoje. Os empórios, então existentes, vendiam os produtos a granel, ou seja, embalados na hora. Isso favorecia porque a pessoa podia comprar um produto de acordo com o dinheiro que tivesse no bolso, suficiente para fazer apenas um almoço ou jantar. 

Não existiam aposentadorias como existem hoje. A pessoa envelhecia ou adoecia, saia de porta em porta pedindo esmola. Pedir esmola era como via sacra.  No fim da vida o trabalhador ia para a Vila Vicentina. Ali era sinônimo de pobreza, de miséria e falta de recursos. Eu sei disso, já que ajudei lá desde a minha infância. 

Hoje, nem as leis permitiriam um estabelecimento tão desarrumado daquele jeito. Não tinha sequer um banheiro decente e aquele lugar que marcava o fim da estrada da vida... Vida cuja pessoa passou o tempo todo lutando por ela e de seus filhos, agora se encontrava ali, abandonado aguardando a hora da morte. 

Eu vi pai e mãe chorar por não ter notícias de filho que partiu e nunca mais voltou, e nunca mais deu notícia. Não existia televisão e rádio era raro. O correio era precário, telefone nem pensar. Transporte difícil. Muitas pessoas nasciam e morriam no seu pequeno município sem nunca ter conhecido outra cidade. Ir para são Paulo ou Rio de Janeiro era ato de bravura. 

Aqueles que voltavam o faziam num espaço de anos. E quando vinham, melhorados de vida, levavam os seus pais e esta era a ultima viagem. E aqueles que insistiam em morar em Candeias pagavam caro por esse amor ao seu quinhão natal. Mesmo porque o pobre de hoje vive uma vida superior a que viviam os ricos daquele tempo.

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos




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