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quinta-feira, 22 de maio de 2014

ACONTECEU AQUI NESTA ESQUINA.

                                             Reedição: Um triste jeito de ser pai.

Amar alguém é se sentir dono de algo que não possui. Quando a pessoa se sente ferida no amor, é uma dor muito forte. É um sentimento que machuca e deixa uma cicatriz no coração que só quem a tem sabe sentir, porque cada coração tem uma forma de sentimento. ---- Eu entendo que ninguém deve interferir na vida amorosa de alguém. Afinal somos responsáveis pelos nossos atos. Quando alguém ama a um outro alguém, os conselhos raramente podem ser válidos, afinal como diz o rifão, o coração tem certas razões que a própria razão desconhece. É um erro violento aqueles que castram a liberdade de escolha de alguém sobre qualquer pretexto. Devemos entender que é muito melhor arrependermos daquilo que fizemos ao contrário daquilo que não fizemos. A liberdade é algo que o ser humano alimenta com o coração e não há quem não a entenda. Cumpre aos pais na infância de seus filhos orienta-los sobre o respeito e mostrar-lhes a estrada do bem e do certo. Porque muita das vezes, os erros dos filhos acontecem por falha dos pais que tentam corrigir os filhos, mas ai já será tarde demais.

Eu contava mais ou menos uns 12 anos de idade e numa manhã de domingo, quando eu ia para a missa das 8 horas na Igreja do Senhor Bom Jesus, quando me deparei com um acontecimento triste, bem na esquina onde se encontra a residência do Sr. Miguel Albanez (Biribico)

Um casal de namorados conversava feliz da vida. Quando surge, vindo do lado da Escola Padre Américo, o pai da moça, um senhor que tinha o nome de Lacinho. ---- O Sr. Lacinho tinha um rompante forte; morava na zona rural e tinha hábitos extremamente agressivos. E quando bateu os olhos no casal bradou em voz alta:

“Eu já te falei que num quero vê ocê namorando nas isquina. E ainda namorando vagabundo! E ocê pode sumi das vista dessa fia disrregrada. Fia minha ocê num namora não seu trem ordinário! Eu num vô cum a sua cara! Quela ocê num vai casá nunca. Um trem que num tem onde caí morto, qui vive cagano pá jantá... Ocê que só relá. Eu num puis fia no mundo pra vagabundo relá não... E ocê sua bisca, toma seu rumo. Pode tirá o cavalinho da chuva porque com esse trem ruim ocê num casa memo. Se fosse bão tinha ido lá in casa pidi pá namorá. É mais faci ocê tê que sumi lá de casa do que casá com esse trem.”

Eu fiquei assistindo aquele espetáculo que naquele tempo para mim foi uma comédia dada a minha juventude. Mas hoje, quando me lembro disso, é como se lembrasse de um drama muito triste. Chego até ao ponto de sentir um pouco de remorso por ter achado graça. --- Eu, então, não conhecia o sentimento do amor, interessei-me, apenas, por aquela agressão sem defesa. Eu não conhecia o choro interno dos adultos, portanto não fiz a mínima ideia do que se passava por dentro daquele casal de namorados. ---- O tempo passou, e hoje me emociono e sinto o que deveria ter sentido naquele momento e não senti. Na infância e na juventude, cometemos enganos que um dia virão nos servir de lições.

Eu nunca me esqueci daquele espetáculo; daquela humilhação; daquele jeito violento de tratar uma filha e um candidato a namoro. Até hoje quando me lembro disso, vem à tona de minha mente, a moça tirando do pescoço um cordão de ouro que o rapaz com certeza a teria presenteado e lhe foi devolvido. E os dois chorando, quando um seguiu rua abaixo e a outra passou à frente e acompanhou o pai para a igreja.

Era uma moça com mais de vinte anos. Eu nunca mais a vi com outro namorado. E o rapaz, posteriormente casou-se e enquanto os meus olhos o vigiaram me parecia ser muito feliz com a sua esposa e seus filhos. Era trabalhador e respeitado na cidade. O tempo o fez sumir de minhas vistas. Mas, o triste fato continua guardado nos fundos dos meus olhos e nunca foi esquecido.

A violência verbal, às vezes, machuca mais do que a violência física. Esta foi uma das grandes lições que a escola da vida me deu. Ver um pai estragar a vida de uma filha pensando que estava lhe fazendo algum bem, ou decidindo por ela aquilo que deveria ter sido dela.

 

Candeias MG Casos e acasos.

Armando Melo de Castro

domingo, 4 de maio de 2014

EU NÃO BEBO 'PACARAI'


                                                      Foto para ilustração do texto.

Ontem eu entrei num bar aqui em Juiz de Fora a fim de tomar um copo de vinho seco. O vinho seco é muito bom para a saúde, segundo dizem. Eu faço isso de quando em vez. Afinal, o ser humano é assim mesmo, escuta sempre o que os outros falam. Quando entrei no estabelecimento conferi um casal atendendo o balcão. O homem limpava uma vitrine e a mulher lavava os copos. Sem dúvida a limpeza do local era admirável. Servido o vinho, vi quando a mulher entrou num cômodo ao fundo, tipo de uma pequena cozinha, no que dava para ver parte do interior dessa área de serviço. Num descuido dessa senhora eu a vi rodopiar o dedo indicador no nariz e o fez com muita vontade. Só de pensar que aquele dedo teria entrado no copo onde estava o meu vinho, eu já fiquei danado da vida.

Pois é meus amigos, olhem para os lados e verão quanta lambança existe ao nosso redor. Tem gente que sabe limpar um bar, mas não sabe limpar o nariz. E o vinho? Eu já teria tomado quase todo, e como não tinha como devolvê-lo fiquei apenas com a repugnância. Só quem bebe “pacarai” não vê essas coisas que a vida nos mostra no nosso dia a dia. 

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos