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domingo, 14 de setembro de 2014

LEMBRANÇAS DE CANDEIAS.


Foto do Álbum de Clara Borges.

Lembro-me de quando Candeias não tinha sequer uma rua calçada. A Rua Coronel Marques, chamada de Rua da Estação era o cartão de chegada de quem vinha de fora. E era triste. Se fosse aos tempos de chuva, os viajantes sofriam com suas malas no meio do barro. Esta, contudo, foi a primeira rua de Candeias a receber calçamento. E o pedreiro que o fez foi um senhor chamado Ilídio.

Lembro-me que naquele tempo os meninos trabalhavam. Vendiam pão, doces, biscoitos, pastel, verduras e frutas, na rua.  Muitos engraxavam sapatos. Eu por exemplo engraxei muito sapato aos domingos na Rua Professor Portugal. Outro que foi meu colega e que também tinha um engraxate era o Vicentinho Vilela. Naquele tempo os filhos ao invés de viver à custa dos pais já os ajudavam nas despesas. Faço-me lembrar de que o Pedro Pitanga, Dionísio Passatempo, Joaquim Passatempo, Adão Caixeiro, eram meus fregueses de engraxate.

Lembro-me da Praça Antônio Furtado, quando não tinha árvores nem bancos. Quando servia de campo de futebol para os times formados na rua. Quando era conhecida pela Praça dos Circos, pois, ali eram armados os itinerantes, circos e parques. Barracas de ciganos e ponto de aglomeração pelas festas de reinado.

Lembro-me das três sirenes que apitavam na cidade. A mais possante ficava na máquina de limpar café do Bonaccorsi nas proximidades da estação ferroviária. Ela tinha um ruído tão forte que era ouvido nos quatro cantos da cidade. A outra era, também, da máquina de limpar café do Emídio Alves, na Rua Francisco Bernardino de Sena. E a terceira era a do cinema, avisando que a sessão cinematográfica estava prestes a começar.

Lembro-me dos trens de passageiros que paravam na estação deixando e levando passageiros para os diversos pontos do país. Como era gostoso viajar de trem. Ele demorava duas horas de Candeias a Formiga, e andava sempre atrasado, mas era uma viagem tranquila. Ali dentro do trem tinha gente de toda parte e às vezes podíamos encontrar até artistas. Certa vez numa dessas viagens pudemos ver as irmãs Galvão. Uma com o violão e a outra com o acordeão. Eram jovens cantoras e estavam viajando no vagão de segunda classe. Junto com a classe proletária. Os trens tinham a primeira e a segunda classe. E como o acesso de um vagão para o outro era fácil, muitas pessoas compravam o bilhete de segunda classe e viajava no de primeira. Esperava o chefe do trem passar e picotar as passagens. No noturno tinha ainda o restaurante, onde podia tomar refeições quando a viagem era mais longe. Fora disso poderia tomar uma cervejinha ou refrigerantes.

Lembro-me do Bar do Bóvio e do Bar Piloto. Candeias não tem hoje um bar que possa ser comparado com esses dois bares. Bebidas nacionais e estrangeiras. Como não existiam nesse tempo os supermercados, latarias, azeites de oliva, ou seja, tudo que era importado ou importante era vendido nesses bares. As vendas vendiam normalmente a alimentação básica.

Lembro-me da festa do Reinado. Havia nessa festa candeenses que sumiam durante o ano e apareciam nesse tempo. A cidade ficava cheia os comerciantes vendiam muito e quando o povo que vinha de fora ia embora a cidade ficava triste. Da mesma forma era a época da Semana Santa.

Lembro-me do Carnaval em Candeias. As mães iam para levar as suas filhas. Não havia essa liberdade que existe hoje. As filhas eram preparadas para o casamento e os rapazes eram comprometidos com o trabalho quando pensavam em se casar.
Lembro-me dos domingos de verão quando vários caminhões iam até a usina que gerava a eletricidade do município e era de propriedade do Senhor Celestino Bonaccorsi. Parece que lá existia mais água. E peixe também. As pessoas nadavam, pescava, namoravam tudo dentro de grande respeito.

Mas, a lembrança que mexe e remexe dentro de mim... A lembrança que fermenta e aumenta uma grande saudade. A lembrança que entrou pelo meu cérebro e desceu ao coração e lá permanece, é o eco dos sinos da antiga Igreja Matriz chamando os fieis para o encontro com Deus; marcando o meio dia; anunciando a hora do Ângelus e anunciando, também, a ida de um filho de Deus para o céu... Esse eco é uma mistura de lembrança, saudade e tristeza.

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos.

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